
No dia 27 de setembro o país comemora o Dia Nacional da Doação de Órgãos, em alusão a esse ato de compaixão responsável por salvar inúmeras vidas todos os anos. O Brasil é referência nesse assunto a nível mundial: de acordo com o Ministério da Saúde, o país tem o maior sistema público de transplante do mundo, tendo 95% dos procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde – SUS.
Acontece que do outro lado da moeda, os números também são expressivos: são mais de 40 mil pessoas na lista de espera por um transplante (dados do Ministério da Saúde de maio deste ano). Para que o resultado dessa conta seja positivo, é preciso tomar uma atitude simples: falar sobre o assunto.
"Hoje, quem autoriza a doação de órgãos, é um familiar de primeiro ou segundo grau, por isso que é tão importante conversamos sobre esse assunto em casa e comunicar a família sobre o desejo de ser doador", afirma Kelen Machado, enfermeira no Hospital Dom Vicente Scherer, do Complexo Hospitalar Santa Casa, referência em transplante na America Latina.
De acordo com a enfermeira, em 46% dos casos a doação de órgãos é negada, um número muito alto para os índices de espera por doação. Segundo ela, os principais motivos que barram a doação são: desconhecimento do desejo do potencial doador; doador contrário a doação em vida; familiares indecisos, "às vezes a mãe ou o pai não quer doar, e, apesar de ser necessário apenas uma assinatura para autorizar a doação, evita-se realizar doação nesses casos para evitar o atrito da família"; familiares que desejam preservar o corpo íntegro, "apesar da cirurgia de retirada do órgão deixar apenas uma cicatriz, como outra cirurgia qualquer, muitos negam por esse motivo"; descontentamento com o atendimento do hospital, "as pessoas muitas vezes são transferidas de vários hospitais, onde não foram bem atendidas, e essa sensação de descaso faz com que a doação seja negada"; receio pela demora da liberação do corpo, "pois é preciso coletar exames, assegurar a compatibilidade, localizar os receptores, etc"; convicções religiosas; e incompreensão do conceito de morte encefálica.
A doação de órgãos e tecidos pode ser realizada em vida ou após a morte. Em vida podem ser doados o rim, um pedaço do pulmão, um pedaço do fígado e medula. No Brasil, esta modalidade é realizada apenas entre familiares. Para as demais pessoas, há necessidade de autorização judicial, aprovação da Comissão de Ética do hospital transplantador e da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgão – CNCDO, órgão que coordena as atividades de transplantes.
Após a morte, podem ser doados os rins, coração, pulmões, fígado, pâncreas, e também tecidos, como córneas, pele e ossos. Para isso, é preciso constatar a morte encefálica. De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, o diagnóstico de morte encefálica faz parte da legislação nacional e do Conselho Federal de Medicina, e exames são realizados para comprovar que o encéfalo não apresenta atividades.
A doação de órgãos é um procedimento que pode salvar ou melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. Ela é essencial para o receptor que aguarda, muitas vezes, durante anos até chegar a sua vez. Ela é reconfortante para a família do doador, pois a ideia de continuidade por vezes traz certo alento aos familiares. Ela é importante para a sociedade, que a cada ano perde inúmeras pessoas na fila de transplante. Converse com a sua família, deixe claro qual o seu desejo! Ser doador é um ato de amor ao próximo.