Essa semana foi comemorado o Dia Mundial sem Tabaco, data promovida pela Organização Mundial da Saúde desde 1987. Em quase 30 anos, muitas políticas anti-fumo já foram implantadas no país e no mundo, e as pesquisas comprovam que o percentual de fumantes vem diminuindo gradativamente. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer-INCA, em 1989 o percentual de fumantes de 18 anos ou mais no país era de 34,8%. Já em 2013, este número caiu para 14,7%.
O tabagismo não é um hábito. O tabagismo não é um estilo de vida. É uma dependência, uma doença. E é necessário enxergá-lo como tal. Faça a seguinte comparação: uma pessoa é considerada alcoólatra quando abusa na ingestão de bebidas alcoólicas, quando bebe álcool todos os dias e constantemente passa da conta. O alcoólatra é visto pela sociedade como uma pessoa doente, e que precisa de ajuda. O tabagista não, e é preciso mudar essa realidade.
Para o pneumologista Luiz Carlos Corrêa da Silva, do Programa de Controle do Tabagismo 180º da Santa Casa, o tabagismo é dependência química. "É um transtorno mental e comportamental relacionada à dependência da nicotina. No nosso cérebro existem receptores que são estimulados pela nicotina, eles interferem em outro setor do cérebro onde é formada a dopamina, responsável pela sensação de prazer, e isso gera efeitos estimulantes no fumante, causando a dependência". Além disso, existe uma dependência psicológica, que envolve o hábito de acender o cigarro, ocupar as mãos, o enfrentamento à ansiedade. "O fumante às vezes nem se dá conta de que acendeu o cigarro e está fumando, ele entra no modo automático. Isso chamamos de automatismo, que é fazer o mesmo movimento repetidas vezes".
Acontece que poucos tabagistas entendem, de fato, o que o cigarro causa ao organismo no segundo em que o cigarro é aceso e a fumaça é tragada. "A fumaça contém 4.700 substâncias tóxicas, algumas cancerígenas e outras causadoras de muita irritação para as mucosas. Quando tragada, penetra pelo sistema respiratório, levando essas substâncias para o pulmão, passando para o sangue e seguindo para todos os locais do nosso organismo. Não existe nenhum setor do organismo que não receba uma fração dessas substâncias químicas". Portanto, apesar do sistema respiratório ser o mais atingido pelo fumo, ele está longe de ser o único.
Segundo o INCA, o cigarro é causa de aproximadamente 50 doenças, sendo muitas delas impactantes e fatais, como o câncer, e sendo fator importante de risco para outros tipos de doença, como a tuberculose, impotência sexual, osteoporose e infertilidade. Para o Dr. Luiz, o tabagismo impacta consideravelmente em quatro grupos de doenças: Cardiovascular, causando principalmente o infarto agudo do miocárdio; Cerebrovascular, causando derrame cerebral; Câncer de vários órgãos, mesmo os que estão à distância do setor respiratório; e a Doença Pulmonar Crônica, principalmente o enfisema pulmonar e a bronquite crônica.
Para lidar com a dependência é necessário, então, uma visão multidisciplinar do tratamento. De acordo com o Dr. Luiz o primeiro passo é trabalhar a motivação para largar o cigarro, encontrar os motivos pelos quais a pessoa recorre ao fumo, e se há uma real vontade de parar de fumar. "O mais importante é a terapia cognitivo-comportamental, é fazer com que essa pessoa tome sua decisão e mantenha a certeza de que está fazendo uma decisão certa em parar de fumar. Com isso ela terá mais estímulo e mais coragem para o enfrentamento do vício". Depois, com auxílio médico, é possível fazer uma terapia de reposição de nicotina, através de adesivos ou gomas de mascar, tratamento psicológico, tratamentos através de medicação, entre outros. "Em casos de muita dificuldade é possível associar todos os tipos de tratamento", completa o pneumologi
sta.