Muito mais do que um mero passatempo, brincar é fundamental para o desenvolvimento das crianças. As atividades recreativas proporcionam inúmeros benefícios que vão da expressão corporal até aspectos cognitivos e motores. Para entender melhor como isso acontece, conversamos com o educador físico Ary Fernando do Santos, sócio da Empresa SER, que desenvolve junto à Cabergs o projeto Cabergs Criança.
De modo geral, quais aspectos do desenvolvimento da criança são beneficiados pelas atividades recreativas?
Acredito que "o brincar" implica uma dimensão evolutiva das crianças. Ao brincar, ela aumenta sua criatividade, expressão corporal, autoafirmação e o desenvolvimento cognitivo, afetivo, motor e social. A recreação tem uma função compensadora, pois lhe dá uma satisfação pessoal, possibilitando o reencontro com os movimentos e a descontração necessária à vida. Deveríamos brincar sempre!
Há brincadeiras indicadas para cada faixa etária?
Sim. No projeto de verão da Cabergs brincamos com crianças dos 05 aos 12 anos e procuramos desenvolver atividades em que todos possam participar. Buscamos incentivar a criatividade e o lúdico. As brincadeiras são sempre o "carro-chefe" das atividades desenvolvidas. Procuramos afastá-las um pouco do mundo virtual, como tablets e celulares (que não são permitidos).
Qual a importância das atividades recreativas no que diz respeito ao sedentarismo?
Uma criança fisicamente ativa tem grandes chances de se tornar um adulto ativo. Promover a prática regular de exercícios físicos e atividades recreativas que envolvam movimento significa estabelecer uma base sólida para a redução do sedentarismo na idade adulta. Com a evolução da tecnologia, é muito comum crianças e adolescentes substituírem atividades que demandam gasto energético pelas brincadeiras automatizadas. É frequente vê-las por horas na frente da televisão ou do computador, jogando videogame ou navegando na internet. Na maioria das vezes, essas atividades são praticadas consumindo petiscos nada saudáveis, como salgadinhos, batatas fritas, bolachas recheadas. Com o tempo, esses hábitos podem levar a criança à obesidade infantil, uma das doenças mais comuns hoje, e causada, em boa parte, pelo sedentarismo.
A vida sedentária provoca o desuso dos sistemas funcionais, ocasionando atrofia das fibras musculares, perda da flexibilidade articular e comprometimento funcional de vários órgãos. O sedentarismo pode levar a doenças como hipertensão arterial, diabetes, obesidade, ansiedade e aumento do colesterol, além de ser considerado o principal fator de risco para a morte súbita em adultos.
Em que tipo de brincadeiras as habilidades sociais das crianças são mais desenvolvidas? É possível dar um exemplo de como isso ocorre?
Nossa equipe busca observar e analisar, em cada criança, suas atividades e comportamentos sócio-afetivos em relação às demais: a capacidade de articular pensamentos, sentimentos e ações frente a situações adversas; a maneira pela qual a criança interage com seus colegas sem discriminá-los por razões físicas, sociais, culturais ou de gênero. Todas as brincadeiras que propomos requerem interação e dialogo. Algumas vezes misturamos maiores e menores em uma mesma brincadeira, para que saibam respeitar as diferenças e os "tempos" de cada criança. Todas as atividades são realizadas em grupo. Passamos as regras antes, e depois discutimos para ver se todos estão de acordo. Deixamos um momento no final de cada brincadeira, para discussões e melhoramentos. Ou seja a criança é parte fundamental desse processo e deve ser ouvida sempre.
Como deve ser a postura dos pais nos momentos de recreação? O que devem incentivar e que cuidados devem tomar?
Os pais têm papel fundamental no desenvolvimento das crianças, mas o que vemos hoje são pais ausentes e que não dispõem de tempo para seus filhos. A postura ideal seria aquela em que pais e filhos brincam juntos. Temos visto muitos pais que dão telefones e tablets a fim de "acalmar" a criança, em vez de incentivar as brincadeiras mais simples, como correr, subir em árvores, pedalar, brincar de esconde-esconde, ler, ouvir música, pintar, desenhar, entre outras. Os cuidados devem existir sempre, mas não devem ser um limitador, são com os tombos que aprendemos a levantar. Também não devemos de forma alguma colocar a criança sob pressão, como por exemplo, pais que levam seus filhos para "escolinhas" de futebol e querem que o filho seja o melhor, que falam mal na beira do campo, que brigam quando o filho não vai bem. Tudo isso pode prejudicar ao invés de ajudar. Uma palavra de conforto sempre terá mais valor que um xingamento.
Quais as recomendações para os pais no período de férias das crianças?
Brincar e brincar com seus filhos e, aqueles que não têm tempo para isso, procurem ajustar a agenda para que, pelo menos em algum momento do dia, isso seja possível. Também podem levá-los para o Cabergs Criança, que lá garantimos a brincadeira o dia todo.
Por fim, como a Empresa SER pensa o trabalho desenvolvido no programa Cabergs Criança? Que retorno vocês têm desse trabalho?
Para nós da equipe SER o Cabergs Criança é um dos melhores momentos do ano, esperamos com muita alegria essa data chegar. Fazendo uma analogia, seria como uma escola de samba: assim que acabamos já estamos pensando no próximo ano. Nosso objetivo maior sem dúvida é a satisfação das crianças, e depois a dos pais e familiares. Trabalhamos com muito amor e carinho. As brincadeiras têm uma proposta de sociabilização e desenvolvimento da criatividade. Elaboramos brincadeiras simples, mas que gerem experiência, que tragam ensinamentos para a vida. Após cada semana recebemos retornos (através de questionários) dos pais e da Cabergs. Isso nos ajuda a melhorar cada vez mais. Já estamos no terceiro ano juntos do programa e esperamos continuar por muitos outros.