O câncer de mama é uma das doenças mais antigas da humanidade. O Egito, por exemplo, identificou o mais antigo caso do tumor já registrado, encontrado nos restos mortais de uma mulher que viveu próximo do ano 2.200 a.C.
Desde então, a ciência tem evoluído muito. As chances de cura aumentam gradativamente, principalmente quando o diagnóstico é feito precocemente. Já as opções de tratamento tendem a ser bem menos agressivas, preservando o bem-estar da paciente na medida do possível.
Para falar um pouco mais sobre esse assunto, convidamos o Médico Oncologista Clínico, Tomás Reinert, para uma conversa.
Confira o bate-papo:
CABERGS - Para traçar um paralelo entre os métodos mais antigos e os atuais, podemos falar sobre os tratamentos mais comuns do câncer de mama que, aos poucos, têm sido substituídos por técnicas mais modernas?
Dr. Reinert - Existem vários tipos de tratamentos empregados no cuidado da paciente com câncer de mama, que são usualmente utilizados de forma integrada (ou multidisciplinar). A cirurgia e a radioterapia são modalidades terapêuticas para o tratamento local da doença, enquanto outras modalidades como a quimioterapia e a hormonioterapia são utilizadas para tratar a doença em sua forma sistêmica, uma vez que são medicamentos que atingem diversas regiões do corpo através da corrente sanguínea.
Normalmente a primeira etapa no tratamento consta na cirurgia da mama e avaliação dos linfonodos axilares. Em casos específicos, podem ser utilizados tratamentos como a quimioterapia neoadjuvante (ou pré-operatória). Usualmente, após a cirurgia a paciente é avaliada pelo oncologista, que pode recomendar um ou mais tratamentos complementares de acordo com o tipo e a extensão do tumor.
CABERGS - A primeira geração dessas novas estratégias de combate ao câncer são as terapias alvo. Como elas funcionam?
Dr. Reinert – Trata-se de medicamentos desenvolvidos especificamente para atuar sobre determinadas células cancerosas. O grande diferencial das terapias alvo é que elas são dirigidas contra as células tumorais com maior precisão. Com isto, evita-se muitos efeitos adversos que alguns tratamentos oncológicos trazem por também atingir células sadias. O resultado é mais eficaz e com menos efeitos adversos.
CABERGS - Em quais situações as terapias alvo podem ser indicadas?
Dr. Reinert - As terapias alvos já são utilizadas de forma rotineira no tratamento de diversos tipos de câncer. Elas são indicadas após a realização de exames genéticos e de biologia molecular, que avalia biomarcadores. No tratamento do câncer de mama, o melhor exemplo são as terapias alvo anti-HER2, como trastuzumabe e TDM1, que agem especificamente em um tipo agressivo de câncer de mama (HEr2-positivo) e trazem importantes benefícios para as pacientes.
CABERGS - Essas já são técnicas usadas no Brasil?
Dr. Reinert - Sim. A maioria das terapias alvo modernas já são utilizadas no Brasil. Entretanto, cabe ressaltar que infelizmente muitos destes avanços da medicina não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
CABERGS - A imunoterapia também é uma boa opção no tratamento do câncer de mama?
Dr. Reinert - A imunoterapia já é considerada o tratamento de primeira escolha em vários tipos de câncer, como melanoma e tumores de pulmão. No câncer de mama, a imunoterapia é um tratamento muito promissor e que já é aplicada em pacientes selecionadas com um tipo agressivo de doença, conhecida como câncer de mama triplo-negativo. Este é um campo no qual a pesquisa clínica vem avançando bastante e devemos ter muitas novidades nos próximos anos.
CABERGS - Um dos efeitos colaterais mais conhecidos do tratamento oncológico, e que costuma causar ansiedade nas pacientes e mexer com a autoestima delas, é a queda de cabelo. Já existe alguma alternativa que evite a alopecia?
Dr. Reinert - Existem algumas alternativas. Porém, para a maioria das pacientes com câncer de mama, ainda é importante o tratamento com alguns quimioterápicos que estão associadas com a queda de cabelo. Este é, muitas vezes, um dos maiores desafios e dificuldades que nossas pacientes enfrentam. A grande esperança é que no futuro as terapias inovadoras (como terapias alvo e imunoterapia) venham a substituir a quimioterapia em grande parte dos casos. Por serem mais específicos contra as células cancerosas, estes tratamentos usualmente não estão associados com alopecia.
CABERGS - Mesmo com novos avanços surgindo na medicina para a cura do câncer de mama, a prevenção e o diagnóstico precoce ainda são as armas mais seguras contra a doença, correto?
Dr. Reinert – Com certeza! A oncologia mamária é um campo com avanços significativos, tanto na parte de pesquisa como na prática clínica atual. Além dos avanços citados que estão relacionados com o tratamento medicamentoso, também existem importantes avanços nos tratamentos cirúrgicos e radioterápicos. Entretanto, o diagnóstico precoce e a conscientização das mulheres sobre a necessidade da realização de exames de mamografia, seguem sendo a prioridade para mudarmos o impacto desta doença na sociedade. Por isso, campanhas como o Outubro Rosa são de extrema relevância.