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Prevenção ao Suicídio: Você pode ajudar

Postado em 27 de setembro de 2018



Já vimos durante o mês de setembro que o suicídio é, para algumas pessoas, a única solução para algo que elas acreditam ser insuperável. São sentimentos de rejeição, solidão, incapacidade, inferioridade e tantos outros que tornam a vida totalmente preta e branca. Em meio a tantas coisas, o que essas pessoas dizem é que são incompreendidas. E, de fato, muitas vezes a sociedade tem dificuldade em lidar da forma certa com essa situação. Exatamente por isso que o médico psiquiatra, Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina e Diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, conversou com a Cabergs. Ele explica como a família e os amigos podem ajudar alguém que tem demonstrado um comportamento suicida. Confira:

1 Toda a pessoa que comete suicídio sofre necessariamente de depressão?

Não necessariamente. Dados do Conselho Federal de Medicina - CFM, publicados na cartilha "Informando para prevenir", apontam que 96,8% dos casos de morte por suicídio estão relacionados a um transtorno psiquiátrico muitas vezes não diagnosticado, não tratado ou tratado de forma inadequada.
Ou seja, nem todas as pessoas que morreram por suicídio sofriam de depressão, outras doenças também estão associadas. Entre os transtornos psiquiátricos mais comuns associados à morte por suicídio estão os transtornos do humor, transtornos por uso de substâncias psicoativas e transtornos de personalidade.

2 Existe algum "grupo de pessoas" mais propensas a tentar suicídio?

Adolescentes e jovens adultos fazem parte do grupo mais propenso a morrer por suicídio. Segundo informações do Ministério da Saúde, em seu Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o suicídio foi a terceira maior causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos no ano de 2012, atrás de acidentes e homicídios. Em mulheres dessa faixa etária, o suicídio é a principal causa de morte.
Idosos também estão mais propensos ao suicídio, mas por motivos diferentes dos jovens. Perda de parentes, principalmente cônjuge, solidão, a existência de doenças degenerativas e a sensação de estar dando trabalho à família, de ser um "peso morto", são os principais fatores para este grupo etário.

3 Quais fatores sociais contribuem para o alto índice de suicídios no Brasil?

No contexto dos fatores sociais para o suicídio em geral, não apenas no Brasil, consideramos a ausência de laços sociais um dos aspectos preponderantes.
Pessoas que não possuem ou possuem fracos relacionamentos familiares, entre amigos ou amorosos, estão mais suscetíveis à morte por suicídio. Da mesma forma, pessoas que possuem laços sociais mais sólidos estão mais "protegidas", por assim dizer.

Fatores como situação econômica e trabalhista, por exemplo, desemprego e problemas financeiros estão associados a este tipo de morte. Viver sozinho também parece aumentar o risco de suicídio.

4 Como prevenir o suicídio?

Esta talvez seja a pergunta mais importante desta entrevista. O trabalho para prevenção do suicídio está fundamentalmente ligado à detecção precoce e diagnóstico correto dos transtornos mentais.

Como podemos observar nos estudos científicos publicados sobre o tema, confirmados por relatórios das entidades de saúde como OMS e Ministério da Saúde, é inegável a relação entre a morte por suicídio e a doença psiquiátrica. Desta forma, a melhor maneira de se prevenir o suicídio é diagnosticar e tratar corretamente o transtorno mental.

Para isso, precisamos combater veementemente o preconceito que está relacionado a assuntos ligados à psiquiatria e à saúde mental. O maior obstáculo que temos para o tratamento adequado do transtorno mental é o estigma, a psicofobia, forma como chamamos o preconceito para com as pessoas que possuem quadros psiquiátricos.

Quanto mais falarmos corretamente sobre o assunto, ensinando e explicando à população que não há nenhum demérito em recorrer ao tratamento psiquiátrico quando necessário, mais próximos estaremos de mudar esta realidade.

É fundamental lembrar também que o suicídio é uma emergência médica, assim como qualquer outra situação emergencial clínica, por exemplo. Quando percebemos alguém com sintomas de problemas cardiológicos, ou ainda, com uma fratura ou altos índices de insulina, levamos ao médico.

Por que ainda não nos comportamos da mesma forma com a doença mental, levando o indivíduo ao psiquiatra? Por puro preconceito.

5 Como identificar quando alguém apresenta sinais de que pretende tirar a própria vida?

Existem alguns fatores aos quais devemos prestar atenção quando buscamos identificar a ideação suicida ou o pensamento em suicídio. O agravamento do quadro de depressão e demais transtornos mentais deve nos acender o sinal de alerta.

Frases como "eu queria sumir", "a vida não faz sentido", "o mundo seria melhor sem mim", entre outras expressões, demonstram que o indivíduo pode já ter pensado ou está pensando em suicídio. Posturas de isolamento social e perda de prazer em atividades anteriormente agradáveis, sintomas da depressão, podem ficar mais intensos antes da tentativa de suicídio.

Além disso, comportamentos resolutivos, como "colocar os negócios em ordem", aliados aos fatores anteriores, podem significar que a decisão de morrer por suicídio já foi tomada.

6 Como ajudar pessoas que estão passando por essa situação?

Não é simples ajudar pessoas que estão nesta situação, mas existem atitudes simples que podem evitar que a pessoa chegue a este estágio, de pensar em suicídio. A pessoa que tenta suicídio não o faz por desejar morrer e sim por querer parar de sofrer, querer que a dor cesse.

Quando identificada a ideação suicida ou o comportamento suicida é preciso encaminhar imediatamente para o atendimento psiquiátrico. O médico psiquiatra estuda e é qualificado para lidar com este tipo de paciente, sendo o responsável por iniciar o tratamento adequado visando restabelecer a saúde do indivíduo.

Se você conhece alguém, seja familiar ou colega de trabalho, que apresenta os sintomas de uma depressão ou comportamento suicida, auxilie-o a buscar ajuda psiquiátrica. Caso a pessoa em questão seja você mesmo, converse com um familiar ou amigo sobre o assunto e peça auxílio para buscar ajuda psiquiátrica.

7 Após uma tentativa de suicídio, que cuidados devemos ter com essa pessoa e como ajudá-la?

O suicídio é uma emergência médica e, como tal, precisa de atendimento médico. Se for necessária a intervenção imediata, em casos de tentativa de suicídio iminente ou recém-ocorrida, ligue para o SAMU 192.

Passada a urgência, é imprescindível a realização de avaliação psiquiátrica e o início de acompanhamento e tratamento adequado o mais rápido possível. Quanto mais cedo acontecer a intervenção médica, melhor será a recuperação do paciente. Os sobreviventes ao suicídio podem retomar a sua vida de forma saudável desde que tenham tido acompanhamento adequado em sua recuperação.

Esta última regra vale também para qualquer transtorno psiquiátrico: é necessária a intervenção precoce com o objetivo de impedir que o quadro se agrave.

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