No mais recente episódio do podcast Conversa Cabergs, a jornalista Vitória Leitzke recebe o psiquiatra Thiago Pianca para um bate-papo direto e sem rodeios sobre uma questão que ainda gera dúvidas - afinal, existe um limite seguro para o consumo de bebidas alcoólicas? A resposta, segundo o especialista, pode surpreender: não, não existe.
Ao longo do episódio, Dr. Pianca explica que, de acordo com as mais recentes evidências científicas e com a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), qualquer quantidade de álcool consumida representa um risco à saúde. A ideia de que uma taça de vinho por dia faz bem ao coração, por exemplo, já foi superada por estudos mais consistentes que associam até mesmo o consumo leve ao aumento no risco de desenvolver doenças como câncer e transtornos mentais. "Hoje sabemos que o álcool não traz benefício, só dano. E o risco cresce quanto mais se bebe - mas ele existe desde a primeira dose", afirma o psiquiatra.
O episódio também aprofunda a conversa sobre os efeitos do álcool no cérebro. Pianca esclarece que a substância é um depressor do sistema nervoso central. Isso significa que, embora possa causar uma sensação inicial de relaxamento ou euforia, seu efeito final é de redução da atividade cerebral - o que impacta o humor, a memória, o sono e pode levar a quadros de ansiedade e depressão. Mesmo após o álcool sair do organismo, suas consequências químicas no cérebro permanecem, especialmente em quem tem o hábito de beber com frequência.
Outro ponto discutido é o consumo precoce de álcool entre adolescentes. O especialista alerta que o uso na juventude aumenta significativamente o risco de dependência na vida adulta, justamente porque o cérebro ainda está em formação. "Um adolescente que começa a beber tem até 40 vezes mais chances de se tornar dependente. Isso é muito grave, porque o álcool compromete justamente o desenvolvimento da área responsável por tomar decisões", explica.
A conversa ainda aborda as chamadas bebidas "0,0%". Apesar de não conterem álcool, elas podem reforçar a lógica do hábito, o ritual e até manter a expectativa de recompensa, o que preocupa especialistas. Segundo Pianca, há também um aspecto comercial relevante, já que essas bebidas costumam ser mais caras - o que pode levar a pessoa a voltar à versão alcoólica por custo-benefício. "É preciso atenção, porque o comportamento por trás da escolha da bebida muitas vezes se mantém o mesmo", observa.
Por fim, o episódio destaca um aspecto muitas vezes esquecido: os impactos do uso abusivo de álcool não se limitam a quem bebe. Relações familiares, vínculos afetivos e ambiente de trabalho são profundamente afetados quando o consumo se torna descontrolado. O álcool compromete a funcionalidade da pessoa e, com o tempo, toda a sua rede de convivência também adoece. "Esse transtorno não prejudica só quem consome. Ele atinge o entorno - filhos, parceiros, colegas. E tragicamente, muitas vezes a pessoa continua bebendo para tentar melhorar o que o próprio álcool piorou", conclui.